“Bela estreia na literatura! Narrado em primeira pessoa, o texto é todo subjetivo, internalizado – como uma esponja, que absorve a realidade exterior sugando-aprofundamente.

A prosa (poética) é cubista – fragmentada, com partes aparentemente soltas e desconexas. No entanto, ao avançar na narrativa, percebe-se que os cacos vão se juntando, os fragmentos se revelam, na verdade, uma metáfora das separações, dos divórcios, dos rompimentos, dos desencontros e das mortes que estraçalham a vida da narradora. Neste sentido, a orelha reforça a metáfora, pois é, aparentemente, um órgão solto, que, em seu íntimo, está sempre em busca de juntar (pelo sábio ato de ouvir) os cacos do corpo, ou seja, da vida (desintegrada).

O livro, já pelo título, é “metonimizado” na orelha. Por que será que o objeto livro Relato Inspirado por Orelhas não tem orelha? Foi proposital? Para mim, sugeriu uma violência, uma extirpação, que se reflete nas perdas da narradora. No entanto, embora o livro sugira algo não para ser lido, mas para ser ouvido (portanto destinado não a um leitor, mas a um ouvidor), há, espalhados por suas páginas, narizes, bocas, olhos e mãos. Todos os cinco sentidos estão representados neste caos de vida.

Na descrição seca e melancólica, a narração tem um tom filosófico que remete a um existencialismo um tanto niilista, como o de Clarice Lispector. Paula Febbe escreve sem clichês. Há, ao contrário, achados interessantes, como “fotossíntese mental” (página 78). O livro é um meio que fala sobre o fim, inclusive iniciando-se pela “Conclusão”. E a paciência da personagem Cristina é a virtude associada à loucura de um Van Gogh. Em Relato Inspirado por Orelhas, a paciência é uma “natureza morta”.

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